Ao longo das décadas, figuras notórias do submundo têm sido retratadas com um certo fascínio em diversos filmes, criando uma aura de estrelato em torno de criminosos. Este fenômeno tem sido potencializado por algumas produções cinematográficas que, distorcendo fatos, acabam por romantizar atos ilícitos.
Um contraponto notável a essa tendência é o filme brasileiro “Tropa de Elite”, de 2007, dirigido por José Padilha. Esta obra destaca-se por sua abordagem crua e realista, reconhecendo a existência de agentes da lei íntegros e dedicados ao bem comum, imunes aos encantos de influências externas, sejam elas midiáticas, acadêmicas ou elitistas.
Em contraste, “Retorno da Lenda” opta por uma trajetória diferente, enobrecendo a vida de um criminoso especializado em roubo de gado e equinos. Este personagem, cuja atuação no submundo se expande e se refinou com o tempo, conseguiu acumular riqueza suficiente para se afastar em um rancho na remota Baxter Springs, Kansas. O filme, dirigido pelo discreto e habilidoso Potsy Ponciroli, mergulha na história romanceada de William Henry Bonney, também conhecido como Billy the Kid, que teve seu destino selado ainda jovem, em um confronto armado.
Ponciroli inicia sua narrativa com uma cena tensa, remetendo ao clássico “Três Homens em Conflito”, de Sergio Leone, porém subvertendo a mensagem ideológica original. Esse jogo de inversões de papéis entre mocinhos e vilões se desdobra de maneira envolvente, confundindo as percepções do público. O filme se vale de uma performance convincente de Stephen Dorff, que interpreta um personagem que, apesar de suas nuances heróicas, revela-se um indivíduo pragmático e impiedoso.
“Retorno da Lenda” é um filme que equilibra drama e suspense, conduzindo o espectador por uma trama que desafia expectativas e explora a complexidade moral de seus personagens. A presença do anti-herói interpretado por Tim Blake Nelson adiciona profundidade à história, culminando em um desfecho marcado por traição e reviravoltas. Este filme, lançado em 2021, oferece uma visão crítica sobre a glorificação da criminalidade, ao mesmo tempo que proporciona um entretenimento tenso e reflexivo.