Você já deve ter ouvido alguém mais velho do que você falando que não se fazem mais músicas como antigamente. Nostalgia à parte, talvez essas pessoas estejam certas. Pelo menos é isso que indica um novo estudo, publicado na quinta-feira (28) na revista Scientific Reports.
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De acordo com os pesquisadores, as letras das músicas estão realmente se tornando mais simples e repetitivas. Para chegar a essa conclusão, a equipe analisou mais de 12 mil canções em língua inglesa de 1980 a 2020, e dos mais variados ritmos: rap, country, pop, R&B e rock.
Os autores do levantamento perceberam que os artistas têm usado menos palavras difíceis e repetido mais versos, principalmente o refrão.
Em entrevista à agência AFP, Eva Zangerle, uma das responsáveis pelo estudo, preferiu não citar o nome de nenhum cantor ou banda modernos que se encaixariam nesse perfil.
A especialista em sistemas de recomendação da Universidade de Innsbruck, na Áustria, por outro lado, fez questão de destacar um artista antigo que era mais criativo e autêntico, segundo ela: Bob Dylan, que além de cantor e compositor, chegou a vencer também um Prêmio Nobel de Literatura.
De quem é a culpa?
Vale destacar que o estudo não culpa, necessariamente, os artistas por essa tendência.
Segundo Zangerle, a mudança pode ter ocorrido mais por uma questão comercial.
“As letras prendem mais hoje em dia, simplesmente porque são mais fáceis de memorizar”, disse a autora.
Ou seja, a indústria teria passado a exigir músicas desse jeito porque era isso que o público queria.
Em tempos de Spotify e de outros tocadores de música, quem é do setor sabe que precisa chamar a atenção das pessoas logo de cara – senão ela simplesmente troca de faixa.
Zangerle explica que “os primeiros 10-15 segundos são altamente decisivos para pularmos a música ou não”.
E a indústria sabe disso.
Talvez também refletindo a sociedade, os letristas passaram a entregar menos músicas alegres e positivas.
No lugar disso, as letras passaram a ser mais raivosas, tristes ou que transmitam desgosto.
Elas também passaram a ser mais centradas no “eu” e no “meu”.
E no Brasil?
Vale repetir que esse estudo foi feito levando em consideração apenas músicas de língua inglesa – que consumimos bastante por aqui também.
Não há nenhum levantamento sobre artistas nacionais ou músicas em Português. Arrisco-me, no entanto, a dizer que essa tendência detectada por lá se repete por aqui.
E não precisa ser nenhum gênio para perceber isso. Basta prestar atenção nas letras que fazem sucesso no Carnaval, por exemplo. Ou no funk que a garotada tanto gosta.
As músicas são repetições das mesmas frases e com a mesma batida minimalista. Nada contra, só uma constatação.
Portanto, talvez o estudo europeu esteja realmente certo. E, sim, talvez eu esteja ficando velho também.